Como foi trouxa.
Ela passou a querer tudo que vinha no pacote, os passeios de mãos
dadas, as brigas, as brincadeiras, a conchinha depois do sexo, os abraços, o
consolo que parecia que só ele saberia dar. Ela se apaixonou. Se apaixonou tão
intensamente que não percebeu quando isso aconteceu. E merda, ela sabia, sabia
tanto que não deveria. Ela sabia, talvez até mais do que ele, que aquela história
não daria em canto nenhum. Mas continuou mesmo assim, com todas as condições
erradas, ela continuou porque em algum momento ela parou de se importar com
ela, era apenas ter ele que importava. Continuou porque ele poderia ter mil
defeitos, mas toda a meia dúzia de qualidades que ela via parecia que superava
qualquer coisa.
Respirou fundo quando a ansiedade tomou conta de seu corpo mais uma
vez, ela não queria abrir os olhos, mas o frio na barriga e o coração
disparando falaram mais alto e ela pegou o celular, desejando com toda a força
do seu ser que tivesse uma mensagem dele ali, mas é claro que mais uma vez não
tinha nada.
Há uma semana não tinha nada.
Ela quis chorar.
Quis gritar.
Quis poder voltar no tempo e corrigir todas as coisas que julgava ter
feito errado. Mas sinceramente, ela só precisava corrigir um erro, aquele que
deixou ele entrar na sua vida.
Respirou fundo, tão frustrada o quanto podia. Sabia que precisava levantar
e seguir com a sua rotina como qualquer outro dia, fingir que não estava tão
afetada e assistir as aulas, evitar o máximo falar dele e fazer seu trabalho no
estágio, se esquivar das perguntas e engolir a seco quando nenhuma mensagem que
apitasse em seu celular fosse dele. Ela só queria voltar a dormir e acordar em
uma realidade onde eles não estivessem separados, onde o último mês e todas as
desculpas não tivesse acontecido. Ela não tinha mais tanta vontade de sair de
casa, de ver ou conversar com outras pessoas. Nem preciso dizer que ela não
ficava com ninguém desde a última vez que esteve com ele. Não importava. Ela só
queria se fosse a boca dele a beijar a sua, se fossem seus dedos passeando pelo
seu corpo.
Levantou a contragosto, escolheu sua roupa preferida e então o odiou
por um instante, praguejando por algum tempo até perceber que não mudaria o
fato daquela ser a roupa preferida dele também. O ar faltou e ela se deu conta
que aquilo era a saudade mais uma vez. Não parecia normal sentir tanta saudade
de alguém como sentia dele. Nem mesmo de sua mãe que morava em outra cidade ela
sentia tanta falta. Em algum momento tinha certeza que isso a sufocaria. Então
ela morreria. De saudades. Ou de ansiedade, que era seu estado praticamente
todo o dia quando não falava com ele. Ainda esperava que em algum momento seu
telefone a avisaria que tinha uma mensagem nova, um “bom dia linda”, com o qual
ele a havia acostumado muito mal. Era só mais uma manhã normal agora. Onde ela
engoliria o choro e torceria pra esquecer ele enquanto outra parte sua torceria
pra que ele ligasse.
Ele não ia ligar, nem mandar mensagem, muito menos aparecer em sua
porta com flores e chocolate.
Não ia acontecer nenhum desses clichês que ela ficava imaginando em
sua cabeça.
Foi intenso e provavelmente durou o que tinha que durar, mas enquanto
ela estava no seu caminho para a faculdade não parava de pensar o quanto eles
poderiam ter sido incríveis juntos, o quanto o sorriso dele fazia tudo ficar
colorido e era só ouvir aquela risada que tudo parecia estar bem. Ela não
conseguia esquecer como as mãos deles encaixavam tão bem que pareciam ter sido
feitas para estarem juntas. Ela não conseguia esquecer nada sobre eles, as
risadas em momentos inapropriados, a preocupação mutua, as brigas.
Ela sabia, lá dentro dela, ela sabia que aquilo havia sido um ponto
final. E todas as lembranças eram uma tortura. Mas fazia de tudo e não
conseguia, nem ao menos por um minuto, tirar ele da cabeça. Em todas as
situações se pegava imaginando e se aquilo fosse junto com ele, e se ele estivesse
ali. Era para ter sido só um caso, um sexo sem compromisso, onde ambos se divertiam
e no final...
Bem eles não pensaram muito num final.
Ela não pensou que fosse ter um final.
Ela não pensou que no final ela sairia quebrada.
Se ao menos ela não tivesse apostado todas as fichas naquele relacionamento
que estava fadado ao fracasso desde a primeira vez em que ficaram. Se ao menos
ela não tivesse quebrado todas as suas promessas e se apaixonado pelo primeiro
babaca com quem transou. Se ao menos ela fosse menos essa menininha que
acredita em contos de fadas.
Talvez ela estivesse inteira.
Talvez eu estivesse inteira.