quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A primeira vez

Me mexi um pouco desconfortável na cama espaçosa tentando tirar aqueles braços de cima de mim. Ainda não era hora para surtar por isso, eu precisava achar meu celular e minhas roupas. O cara que estava ao meu lado começou a se mexer me soltando mais de seu abraço virei meu rosto em sua direção e seus olhos estavam abertos me olhando, com a expressão confusa. 

Eu não tinha percebido, ele tinha um sorriso meio sacana nos lábios enquanto passava as mãos sobre mim. Por um minuto eu me hipnotizei e sorri de volta, aceitando o encostar de lábios quando ele veio em minha direção. 

“bom dia” ele sibilou com a voz um pouco rouca de sono  “tá tudo bem?” balancei a cabeça afirmando que sim e busquei no meu cérebro alguma palavra pra falar, mas eu não conseguia, naquele momento havia entre mim e um estranho a maldita de uma conexão e eu não sabia de onde isso vinha. Eu não sabia seu nome, quer dizer seu primeiro nome, sabia o sobrenome idiota que todo mundo o chamava que até mesmo agora saiu da minha mente. Desviei o olhar do dele torcendo para que o ar que eu nem sabia que havia perdido voltasse. 

Minha calcinha!

Foi o que eu consegui avistar e me desvencilhei do seu contato saindo até mesmo do lençol e pegando a minha peça intima, ele ficava deitado na cama me olhando enquanto eu me vestia com aquela calcinha listrada horrorosa. E pelo jeito que eu sentia minhas bochechas queimando eu estava vermelha. Que bela cena devia ser, eu só de calcinha, vermelha e tentando localizar meu celular. Olhei pra ele e ele sorriu pra mim. 

“você viu meu celular?” falei um pouco baixo, morrendo de vergonha. Me sentindo extremamente patética por estar ruborizada e com vergonha de alguém que eu acabei de transar. E riu um pouco e se sentou na cama, eu prendi a respiração achando que veria seu pênis, não que eu não tenha visto na noite passada ou que eu nunca tenha visto outros na vida. Mas o que estava se passando ali comigo é que eu estava confusa, por um lado feliz e realizada por outro com todos os meus sentidos gritando que eu poderia ser expulsa de casa, porque passei a noite fora, sem avisar pra ninguém, quando eu já havia dito que dormiria em casa.

“aqui” ele me estendeu ainda sorrindo ou rindo. Talvez ele estivesse rindo da minha cara de desespero e pensando o mesmo que eu, eu sou patética. Patética ao cubo se quiserem saber minha real opinião. Peguei o celular sorrindo de volta e agradeci com um aceno de cabeça. 

Ele continuava sentado, me olhando enquanto eu desbloqueava o celular pra descobrir vinte e sete chamadas perdidas, não consegui ver de quem era porque nesse exato momento ele começou a tocar na minha mão e mostrar a foto da minha mãe. O garoto-sem-nome arqueou as sobrancelhas quando por um momento sem total certeza do que fazer eu o olhei. Bem ele não me conhece, não sabe a merda que pode sair disso tudo. 

“Alô?” Eu pude primeiro escutar um suspiro do outro lado da linha antes que meus tímpanos fossem brutalmente assassinados pela voz esganiçada de raiva da minha mãe. 

“SUA MERDINHA ONDE VOCÊ TÁ?” e então foi nesse momento que eu sabia que qualquer coisa poderia ser inventada, literalmente qualquer coisa, que minha mãe e minha avó comprariam. Olhei mais uma vez pro garoto semi-nu me encarando agora com o cenho franzido. Ah como eu odeio ligações. 

“eu tô na casa da Lisa, ue” Sonsa. Nunca fui tão sonsa em toda a minha vida. E muito burra também porque eles achavam que eu ia estar na casa da Alice. 

“venha pra casa agora, eu não quero saber, Giovanna. Você acha que a gente é idiota? Falou que ia pra um canto e foi pra outro, a gente foi na casa da Alice e ela ficou tão perdida quanto a gente sobre essa sua aventurazinha. Sua avó queria chamar a policia!” Eu tenho certeza que passei de um pimentão para uma folha de papel. 

“ta, ta bom, mãe. Eu to indo” 

“Não demore!” e ela desligou o celular enquanto meu coração batia feito louco e eu saia pelo quarto procurando minha roupa de líder de torcida, no momento eu que precisava de uma torcida pra não ser morta viva assim que eu chegasse em casa e não conseguisse sustentar uma mentira se quer. Achei perto da cama a saia e a camisa e fui me vestido. 

“Giovanna?” Ah ótimo, ele sabia meu nome e eu não tinha nem ideia o dele “tá tudo bem?” eu sabia que ele tava se aproximando de mim, por alguma conexão esquisita que a gente tinha criado e me arrepiei com isso. Sentei na beirada da cama para botar meu tênis e ele me abraçou por trás me beijando na curva entre o pescoço e o ombro. Eu tentei responder alguma coisa, mas acho que saiu mais como um gemido. Me afastei um pouco pra poder colocar o pé no outra lado do tênis e consegui por um segundo clarear minha cabeça. 

“eu preciso ir pra casa, tipo agora” ele continuou me beijando enquanto eu tentava me concentrar e calçar a porra do meu sapato que parecia a coisa menos irrelevante ali naquele momento. Assim que dei um laço pulei com tudo, porque eu juro que mais um beijo molhado daquele e eu tirava a roupa toda de novo. 

“você não vai nem me passar teu numero?” ele perguntou com uma carinha de safado misturado com fofo que eu não sabia até aquele momento que era meu tipo todo. 

“vou, me dai ai teu celular” eu disse rindo e ele me entregou. Sentei na cama outra vez com ele ainda atrás de mim. Coloquei meu número rápido ali e ele riu um pouco. "Dias? Eu também tenho esse sobrenome" ele disse e eu não podia achar a situação mais estranha. Entreguei o celular de volta a ele e fui atrás de uma liga de cabelo que eu sabia que havia levado e então ele virou pra mim de novo. 

“aqui não ta aparecendo o whatsapp” falou desconfiado deitando ao meu lado na cama enquanto eu procurava por ali a liga. Eu ri, me virando pra ele. Ele me roubou um selinho e eu sorri verdadeiramente. Caralho menino sem nome, como você fez isso? “salva o meu no teu e me manda um oi” 

Isso era sensato. 

Peguei meu celular. Adicionar contato novo. Nome. 

Eu tremi por um minuto. Eu não sabia o nome, só o sobrenome que todo mundo chamava ele. Olhei ele que nesse minuto já estava me abraçando de lado olhando junto comigo na tela do celular. Eu ia começar a digitar Mendes e ele me olhou 

“tu não sabe meu nome ne?” eu gelei e dei meu sorriso mais forçado pra ele “Lucas” foi tudo que ele falou e saiu do meu lado rindo. Salvei o numero dele e desisti de achar a liga. Fui buscar o aplicativo do uber no me celular e ele estendeu uma nota de vinte pra mim. Eu primeiro achei ofensivo senti meu coração começar a doer. 

“eu não sei quanto vai dar o uber pra tua casa, linda e to cansado demais pra ir te deixar” e ai meu coração se desmanchou “essa semana a gente sai pra jantar juntos em algum canto ai eu vou de carro prometo” eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo então só acenei com a cabeça e fomos andando juntos lá pra fora esperar o carro. Eu não queria ir. Não se fosse ter que enfrentar a minha avó irritada, nem queria sair de perto dele, parecia tão bom, tão certo. Lucas. 

Mas ao mesmo tempo queria colocar a cabeça no lugar, eu havia acabado de perder a virgindade com um menino que era um estranho pra mim e foi simplesmente perfeito. Por favor, eu só não quero me envolver agora. Eu não preciso disso. Mesmo com essa nossa conecxão magica. Só não.